quinta-feira, 21 de maio de 2020

Covid-19 e os esquecidos

Não é a primeira vez, não será a última vez que se vai falar deste assunto, embora ache que o leitor também deverá saber qual a opinião de quem lhe escreve.

Ao longo destes últimos meses, desde que a pandemia nos afecta, muito se tem falado sobre linha da frente. Fala-se sobre tudo de médicos e enfermeiros, a espaços, de camionistas e autoridades. Pouco depois, quando a pandemia afectou severamente os lares, esqueceram-se os camionistas e até as autoridades e passou a falar-se de lares, médicos e enfermeiros (estes últimos a tal "linha da frente").

Chegámos finalmente à fase do desconfinamento, começou-se a falar, de praias, de restaurantes, de policia marítima e da linha da frente, etc... 

Podia estar aqui, quase, a escrever eternamente sobre este assunto, mas ninguém, ou quase ninguém, fala deles, os esquecidos. Até se fala da sua actividade, quanto mais não seja por uma questão publicitaria, até se abordam os locais, tal como se abordam os hospitais e os lares, até se filma a sua actividade quando os políticos lá aparecem para a foto. Mas, deles, os esquecidos não se fala.

São milhares, são essenciais, não param, não pararam, de dia e noite. Mas agradecimento pouco mais que zero, homenagens e palmas, só para alguns. Os bombeiros lá foram tendo alguma visibilidade, também era melhor, mas e os esquecidos?

Evidentemente que à muitas actividades que aqui e ali também não foram homenageados e até quiçá farão, certamente, também parte daqueles que merecem referencia.

Mas eles tiveram muitos problemas de adaptação, tiveram sempre lá, nunca reclamaram, também têm família, também têm filhos pequenos, também ficaram sem acesso aos avós, também são pais e mães solteiros e fundamentalmente também têm medo.

Durante muitos dias tiveram presentes sem uma mascara, uma luva ou qualquer outro tipo de protecção pessoal e individual. Ainda nos dias de hoje passados que estão alguns meses, não tem qualquer tipo de protecção individual. O país em casa e eles lá, sempre prontos para servir o próximo.

Mas quando se fala em "linha da frente" diz se que se referem a todos, para logo de seguida especificar: médicos e enfermeiros. Sem duvida, são muito importantes e lidam logo com o problema, lidam logo com o vírus.

Mas os esquecidos não sabem quem servem: se doente, são ou assim assim.

São dos que mais mal recebem, são dos que mais mal são representados a nível nacional, são dos que menos se fala anualmente, são dos que menos são apoiados pelo Estado, mas são dos que mais precisamos diariamente.

Sem esquecer todos aqueles de quem também eles estão dependentes. 

A todos eles, funcionários de supermercado, o meu muito obrigado e as minhas palmas por me aturarem diariamente.

Bem haja! 

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